terça-feira, agosto 2

O elogio do desconforto


É desconfortável para um farmacêutico perder oito por cento do seu monopólio. É desconfortável para cada um de nós ser questionado sobre o nosso trabalho. Não o podíamos fazer melhor, mais económicamente, mais rápido? É desconfortável quando a pergunta provém de um superior, de um subordinado ou mesmo de nós próprios.
É desconfortável andar uma hora a pé. É desconfortável levantar pesos. É desconfortável manter o equilíbrio numa posição menos comum. É desconfortável esticar o corpo para além daquilo a que estamos habituados.
Se não testarmos os nossos limites todos os dias, estes limites vão-se encurtando e a dor que queríamos evitar acaba sempre por nos apanhar.
Vivemos numa sociedade que evita a dor. Evitamos a nossa dor, a dor dos outros, a ideia de dor. Quanto a própria ideia de dor se torna insuportável, a dor acaba por vir em nosso socorro e cura-nos da nossa doença.

20 comentários:

Orlando disse...

A última frase é suposta ser uma citação do Nietzsche, mas qual? Também não interessa...

Sofia disse...

"Na verdade, a doença pode ser útil a um homem ou a uma tarefa, ainda que para outros signifique doença... Não fui um doente nem mesmo por ocasião da maior enfermidade". Pode ser esta?

Orlando disse...

Sofia, não percebi a relação entre o que dizes e o que eu escrevi.
Mas o que dizes é claramente verdade:

O exemplo clássico é Darwin: quando voltou da volta ao mundo arranjou uma doença, transformou a mulher em enfermeira e pôs-se a escrever a Origem das espécies...

Anónimo disse...

A dor, principalmente a dor mental, pode tornar-nos mais humanos, menos egoístas, mais generosos, faz-nos pensar. Que alternativas temos se não a aproveitarmos como enriquecimento próprio? O desespero? Não sei qual das dores, se a física, se a mental, custa mais a suportar, mas o melhor é recebê-las da melhor maneira, para que não nos agridam demasiado... Já que a dor faz parte da natureza humana e aparece sorrateira, o melhor é encará-la. Claro que também serão permitidas caretas, para mostrar o nosso desagrado. É que nem sempre estamos de bom humor...

Sofia disse...

Querias o quê?! A esta hora, NINGUÉM percebe o que eu digo! Nem eu... :))) Também não li o post... só vi o comentário... :) (E Nietzsche é o meu herói. Qualquer coisa que ele tenha dito, para mim, é lei. :) )

António Araújo disse...

Comente primeiro e leia depos, não era esse o lema? Estes comentários anglo-"fóricos" andam cada vez mais...curiosos :)

E certas coisas parecem ser universais, afinal...

Será do verão ??

Sofia disse...

Não OMWO! :) Acho que é do cérebro, mesmo! :)

Sofia disse...

M! :) Há quanto tempo...! :) Já lá para baixo, s.f.f.!! :)

maria disse...

On
gostei muito deste post. não comento mais, porque o meu cérebro, definitivamente, foi de férias.

Broken M disse...

Hoje em dia acho que a busca para a analgesia e até anestesia tem trazido alguns problemas a humanidade. Já não se tolera qualquer dor, já não se supera os próprios limites, já não se ultrapassa e assim já não se cresce. Em última análise poderá ser a estagnação da espécie humana, ou até a sua própria decadência.
A dor é adormecida. Mas a dor foi e sempre será um sinal. Um sinal de algo que não está equilibrado e que deve voltar ao equilíbrio. Mas será que somos capazes de o fazer?

António Araújo disse...

Isto não é nada de novo. É apenas Roma de novo em decadência. Um dia acorda, da maneira que sempre acordou, pelo mesmo motivo de sempre...a História é apenas o oscilar de um pêndulo entre os dois extremos da insanidade.

Orlando disse...

Boas férias MC!
O meu também. Só dá para repor uns posts antigos e mais nada...

Orlando disse...

O pior de tudo é o facto de as crianças na escola serem cada vez mais solicitadas a ultrapassarem-se. Vamos pagar bem caro este facto.

Nina disse...

dor sobre dor???

bjs :)

Anónimo disse...

Está visto que este post é mesmo o elogio do desconforto. Pois eu, se tivesse que estar há tantos dias nesta posição, já me tinha desmoronado... :-)

Orlando disse...

M, esta postura não vou lá, nem por um segundo...

Orlando disse...

Bem, a citação do post não sei se é do Nietzsche ou do OMWO. Logo se vê.

António Araújo disse...

Tenho a certeza que é do Nietzsche, mas muito bastardizada pelas falhas da memória ...

Já falámos disso antes, mas continuo a não me lembrar da sua proveniência exacta...

...ou então sonhei :)...não era a primeira vez que o N. me dizia coisas em sonhos :)

António Araújo disse...

Ao que me lembro terminava com uma indagação, do tipo:

"
(...)finalmente até as dores imaginárias se tornam insuportaveis.

E qual é a unica cura para as dores imaginarias?

-Uma dor real."

Ou algo (muitíssimo vagamente) assim.

Sofia disse...

...muitíssimo vagamente... :)