quinta-feira, junho 30

Sundown

Foram escolhidas traduções do Haiku Sundown feitas pelo Faber Castell, pela M, pela Sofia e pela Wind. Podem vê-las aqui.

quarta-feira, junho 29

O metro e os arquitontos

Eu concordo com o que o OMWO escreveu aqui. Como se não bastasse a má qualidade da cobertura que as linhas do metro de Lisboa proporcionam, os desgraçados dos utentes ainda têm que suportar um inferno audiovisual de mau gosto. Tudo começou com música a metro, simplesmente: e estavam tão empenhados em que não perdêssemos pitada que o volume subia automaticamente quando um comboio entrava na estação. Agora temos um metrocanal de tv. (Eu não sei qual é a sensibilidade dos meus concidadãos a estes factos. Uma tortura ainda mais abominável, de resto, é infligida durante um mês por ano aos habitantes de certas freguesias de Lisboa onde se festejam os santos populares. É provável que os infelizes já nem notem. Não obstante, a legislação sobre ruído deve ser mais que abundante, mas é claro que isso não interessa para nada.)

O metro de Lisboa sempre se caracterizou por se ocupar dos aspectos de que não se espera que se ocupe e por negligenciar os que verdadeiramente lhe competem. Dá-nos arte em certas estações, agride-nos com o metrocanal e não planeia a rede de modo a resolver alguns problemas de transporte cruciais da cidade: as novas linhas foram traçadas mais ao sabor das possibilidades de especulação imobiliária do que ao longo das zonas com alta densidade populacional que seria importante descongestionar do transporte privado.

A arte que nos dá também tem que se lhe diga. Eu não acho mal que se cubram as paredes com azulejos de autor ou que nos lembrem que alguém disse Ah, se eu não morresse nunca etc, mas quando a arrogância dos arquitectos me obriga a percorrer um caminho que é três vezes mais longo do que poderia ser, para ir dos canais de entrada até às carruagens e vice-versa (sucede em todas as mais recentes estações), aí apetece-me praguejar. O fenómeno é comum em obras públicas recentes, em que estes arquitontos, não sujeitos ao controlo dos utilizadores directos, dão largas ao desprezo que têm por estes. No nosso metro, resolveram alongar o percurso a que somos obrigados, para não deixarmos de apreciar a sua arte em toda a extensão que julgam que ela merece.

O Anti-Zen

(Se) O Zen é: viver (n)o momento...

Vivemos num mundo anti-Zen. Nunca nos é permitida a concentração. Nunca nos é permitido o vazio. Tarefas para hoje: Tenho exames para corrigir, tenho exames para preparar, tenho que marcar as férias, tenho que comprar o selo do carro, tenho que ver se está na altura da inspecção, tenho que comprar o passe, tenho que ir ao dentista, tenho reunião de condomínio, tenho que ...tenho que...tenho que.... a vossa lista, é muito diferente? Se inclui rebentos, que Deus vos guarde...

No metro, para além da barulheira dos ecrans televisivos há uma voz feminina que anuncia a cada cinco minutos: "é proibido fumar nas instalações do metopolitano de Lisboa". Curioso. Eu nunca tinha visto ninguem a fazê-lo. Será preciso avisar as hordas invisíveis de fumadores subterrâneos a cada 5 minutos? Será que é essa voz incorpórea que nos salva de sermos asfixiados pelas multidões de chain-smokers em fúria? Ou estará lá para nos salvar, isso sim, do perturbador silêncio? O silêncio, essa besta que induz o pensamento, porque a mente abomina o vazio...

Sera isto um acidente? ou será que os capatazes finalmente decidiram que é preciso negar às massas todo e qualquer tipo de pensamento para se manterem no poleiro? Será isto uma escalada da violência, da desinformação, da interferência no canal, do aumento do quociente ruído/sinal, uma tentativa de lobotomia audio-visual colectiva?

Defendamo-nos, camaradas, daqueles que pretendem subverter os nossos preciosos processos mentais! Às armas, às barricadas, o povo unido jamais...hâ? Ah, hum, ok, voltamos a falar disso depois, está na hora de passear o cão, pôr os putos na cama, lavar a louça, eu compreendo...adiemos a revolução para um horário mais conveniente...podes na Terça?

Boas notícias para a Europa


França vai acolher primeiro reactor experimental de fusão nuclear.

terça-feira, junho 28

OMWO

O novo membro do blogue não precisa de apresentação. Para mim ele continua a ser o A.

You are watching Big Brother



Por vezes temos que abandonar o mundo. Há alguns meses atrás decidi desligar a televisão, acabar com as conversas de café, abandonar o planeta dos assuntos correntes, e mergulhar na anacorése. Decidi seguir o caminho inverso ao do Zaratustra e refugiar-me na caverna que ele deixara vaga ( Não, não proponho isto para toda a gente. Era só adequado para mim, e para um certo momento. Que mania que os humanos têm de esperar que justifiquemos as nossas decisões pessoais com o peso da doutrina e a força de um quantificador universal! ).

Foi belo: "Não, eu não sei que o governo mudou. Não, eu não sei que começou uma guerra. Não, eu não sei que musica é essa. Não eu não sei quem ganhou o campeonato. Não, não sei, e por favor não me contes!"

E eu que costumava ser um rapaz tão bem informado....

Quando apesar de tudo mo contavam, via que recuperava o fio à meada em poucos minutos. O mundo dos assuntos correntes é uma telenovela brasileira. Dá a impressão de que se passa muita coisa, mas ao fim de dez minutos ja percebemos o que se passou em seis meses. É porque se passa sempre o mesmo!...

Várias vezes veio à minha porta um funcionário da TV cabo, determinado a tentar-me. Pobre Mefistofeles, nada conseguiu:

"Não, eu não tenho televisão. Não, não está a perceber, eu não dise que não tenho TV cabo. Eu não tenho TV. De todo. Sim, eu estou a falar a sério. O sr. nao percebe. Eu sou o mestre Zen. Eu sou o pequeno centro estável em torno do qual gira o Universo.Sim, eu sinto-me bem assim."

I am jack's raging indifference to the World

Oh, a televisão ainda cá está. Afinal, o profeta afirmou que a revolução vai ser transmitida em directo e eu não gosto de
perder o verdadeiro entertainment(Apocalipse 11:18). Quem quiser ver TV na minha casa está à vontade, não sou nenhum fundamentalista! Basta atravessar o campo de minas e o arame farpado para ligar a minha velha SONY de 13 polegadas com a imagem aos saltos e o som a estalar e a antena meia partida. Chega para uma emergência (é favor quebrar o aquario com o martelinho vermelho e secar o aparelho antes de usar. Cuidado com as piranhas).

Vivia apenas para as coisas eternas. Os livros em vez dos jornais. Bach em vez dos jingles. O Zen em vez das notícias."Ganda jogo, pá!", diziam-me. Eu sorria inocentemente, repleto de beatitude, com ar de pastorinho iluminado, ignorante de tudo excepto dos desígnios do Senhor. Já esperava a visita dos anjinhos, já esperava que Krishna me mostrásse a sua verdadeira forma...e de súbito...

E de súbito colocaram ecrans no metropolitano. Qual a minha surpesa, entro no metro e sou bombardeado com luz e som. A imagem ainda vai, mas "os ouvidos nao têm palpebras", dizia o Pascal Quignard. Nao há como escapar. Em poucos segundos
fiquei a saber quem era o Presidente da Republica ( era o mesmo, nada muda ) quem era o Primeiro Ministro ( era outro, nada muda ), que estavam todos preocupados com a insegurança ( como sempre ), e mais importante de tudo, sou "discretamente" informado, aos berros e com musica histrionica à mistura, de que cuecas, fraldas, telemóvel e automóvel devo comprar esta semana.

I am Bill's scorching anachoretic remains

Escrevi um mail ao metropolitano de Lisboa. Responderam-me com um enlatado, dizendo que o propósito dos ecrans no metro era "formar" e "informar". Deformar parece ser mais o caso. Especialmente quando foi admitido recentemente que "se as torres caíssem hoje isso não passava logo no metro". Nada de notícias a sério, só padding para anúncios, só coisas leves "adequadas ao local", género programa da manhã para velhotas e indigentes. Para que servem os meus impostos? Para que serve o preço do meu bilhete? Ainda tenho que ouvir a publicidade mal disfarçada de notícia? Ainda tenho que ser submerso em lixo? Para quando os forceps oculares, a la Clockwork Orange para prender ainda melhor a minha atenção à "mensagem"?

No dia seguinte, de volta às catacumbas do metro, fui informado de que havia um grupo de faux-pseudo-semi-meta-celebridades retardadas fechado numa quinta qualquer onde os quadrúpedes eram mais inteligentes do que os bípedes. Isto, claramente, era uma versão rural do Big Brother, à qual eu tinha sido misericordiosamente poupado até este trágico instante.

E de repente fez-se luz.

George Orwell estava errado. Isto é finalmente 1984, mas a tragédia absolutista não é que o "Big Brother is watching You".

A tragédia é que "You are watching Big Brother". Quer queira quer não.

Perguntar não ofende

Quando eu morrer, podem esquartejar-me à vontade desde que isso possa ajudar alguém a viver mais uns anos. Algumas pessoas não pensam assim. Estão no seu direito. Conheço algumas que até foram assinar o documento que impede os médicos de um hospital de lhe retirarem um órgão para salvar uma vida. Essa pessoa continua a ter o mesmo direito que eu a poder beneficiar de um transplante de um morto, caso necessite dele.
Será inteligente da nossa parte dar-lhe esse direito?
Será que ele assinaria o papel se tivesse no mesmo momento de abdicar do direito de vir a beneficiar de um transplante, ou perdesse a prioridade no acesso a transplantes?
Seria razoável implementar essa medida?
Discutir isto é secundário ou é de alguma forma relevante?

segunda-feira, junho 27

Zen


Lembro-me muitas vezes de um desempenho do Joaquim Monchique que ouvi o ano passado nos cromos TSF. Não por causa das graças do bispo Tadeu, mas porque quando estava a ouvir o programa de rádio eu estava mais vivo do que o costume. Era mais eu. Talvez porque tinha acabado de fazer uma hora de meditação Zen num pequeno templo que existe no quintal de um prédio na Morais Soares.

O que é que se passou na sessão de meditação? Dois períodos de meditação de meia hora na posição de lotus, tomando consciência do nosso corpo, da forma como respiramos, sem interferir. Não devemos estar a pensar em nada mas se fizermos um esforço nesse sentido obteremos o resultado contrário. Temos apenas de deixar os pensamentos passar, de forma desapegada. Durante o intervalo caminhamos lentamente em torno da sala, desentorpecendo as pernas, continuando a meditação. No final realiza-se um pequeno ritual.
A postura é extremamente importante. Os joelhos devem pressionar o chão. Só assim conseguimos manter uma posição estável e as costas direitas. Enquanto os nossos joelhos pressionam a terra a nossa cabeça caminha para o céu. É como se o nosso corpo estivesse em perpétua expansão.

Passamos as nossas vidas remoendo o passado, preocupando-nos com o futuro, desperdiçando o presente. A única coisa que o Zen tem para nos dar é ajudar-nos a viver um pouco mais intensamente cada momento. Mas isso é quase tudo.
Mas afinal porque é que é importante estar sentado sem fazer nada durante uma hora? Não podíamos aproveitar melhor o nosso tempo? As zonas mais primitivas do cérebro estão constantemente a vigiar o equilíbrio do corpo humano através da análise da temperatura do corpo, da composição química do sangue e de outros indicadores do mesmo tipo, tomando medidas para corrigir os desiquilibrios encontrados. Quando o stress aumenta o sistema nervoso central não pode dar a atenção necessária ao nosso corpo. Períodos prolongados de stress põem a nossa saúde em risco. A adopção da postura e da respiração correctas, acompanhadas da redução da actividade intelectual criam condições para que o nosso sistema nervoso possa restabelecer o equilíbrio da nossa fisiologia. Todo o nosso organismo é assim revigorado.
A meditação Zen é um método de treino da consciência através do treino do corpo. A forma de consciência mais básica, a pura consciência da existência, está associada aos mecanismos de auto regulação referidos acima. A forma com esta consciência está relacionada com a actividade do neocórtex é complexa. A descrição dada por António Damásio para os mecanismos que explicam estas relações parecem estar em concordância com as concepções tradicionais do Budismo Zen. Em particular com os ensinamentos de Taizen Deshimaru (foto abaixo). Podem encontrar aqui um interessante artigo sobre este assunto.

Passamos a vida a ouvir falar da necessidade de realizar actividades de relaxamento. Relaxar não resolve nada. Podemos sempre relaxar afastando-nos dos nossos problemas. Se estivermos em risco de perder o controle das nossas vidas, convém que o façamos. Mas quando temos de voltar a enfrentá-los...
Aquilo que necessitamos é de awareness: consciência do nosso corpo, de cada uma das suas partes, daquilo que nos rodeia, do aqui e do agora. É essa consciência que podemos reforçar regularmente através da prática da meditação Zen. Só assim conseguimos ultrapassar situações de stress com danos mínimos. Quando tomamos consciência de uma parte do corpo, o sistema nervoso autónomo dá-lhe mais atenção, aumenta a irrigação sanguínea nessa zona. As tensões diminuem. Reciprocamente, quando surgem problemas numa zona do corpo, a nossa consciência dessa zona diminui.
Só fui uma vez ao dojo Zen da Morais Soares. Pratiquei este tipo de meditação durante alguns meses num pequeno templo budista a caminho para a minha universidade. A minha postura do lotus é muito má e isso complica as coisas. A meditação Zen é um outro nome para o Raja Yoga. As diferenças são mínimas. É muito difícil permanecer em lotus durante meia hora sem tonificar e alongar o corpo com a prática regular de alguns exercícios de Yoga. Como escrevi aqui o Yoga nasceu a partir deste tipo de meditação. O (Hatha) Yoga também proporciona todos os benefícios da meditação Zen, embora de uma forma diferente.

A meditação Zen é uma técnica que não tem nada a ver com uma religião específica ou sequer com um sentimento de religiosidade. Podem ver aqui a foto de um dojo zen cristão na Alemanha. Estes cristãos já perceberam que olhar para o corpo como algo perecível e descartável não é a melhor solução para viver plenamente a vida.

domingo, junho 26

Um pequeno teste político

O objectivo deste teste é determinar o seu grau de clubite política. Escolha quatro concelhos que lhe digam alguma coisa e diga em que partido político pensaria votar nas próximas autárquicas em cada um deles.

Diagnóstico: se consegue votar em três partidos políticos políticos diferentes, os meus parabéns. Se só consegue votar em dois faça um pouco de ginástica. Que tal votar noutro partido para a Junta de Freguesia? Ou para a Assembleia Municipal?
Se vota sempre no mesmo, imagine ao menos que votava noutro. Seria assim tão horrível? Se o seu voto está cativo à partida, não há razão nenhuma para que eles se preocupem consigo. Existem métodos estatísticos que permitem medir a clubite média de cada região. Alguns eleitores são menos iguais do que outros. E você é um deles.

sábado, junho 25

Sundown




Sundown
Cabin lights strech
onto the lake

Aqui fica mais um haiku para traduzir!
Imagem daqui.

O Sagrado e o Profano

Os temas tratados neste blogue flutuam um pouco ao sabor dos acontecimentos. Ultimamente destacaram-se dois temas. Os problemas de segurança e questões religiosas. Estes dois temas não estão assim tão separados. Vou resumir o que se passou correndo o risco de simplificar demasiado as coisas.
O Lutz levantou o problema da existência do Diabo para os cristãos. Os cristãos conservadores acham que existe. Eu lembrei que o diabo é o bad cop que é fundamental para que o sistema funcione. É o Diabo que pune os que prevaricam. Os cristãos mais progressistas ficaram numa posição delicada, pois não queriam cair em heresia. Depois de uma longa discussão chegou-se a um certo consenso entre a Maria da Conceição, O CA, a MaDi e eu, entre outros. Os cristãos progressistas afirmam que o Diabo não existe própriamente e não compete à religião punir ninguém, que as pessoas se punem a elas próprias ao se afastarem do bem. Não é esta a minha opção, mas acho-a coerente e respeito-a. Passemos então do sagrado para o profano.
Os comentários do CA ao post do Lino parecem indicar que ele transpõe para o profano a sua posição religiosa. Obviamente que o pode fazer, enquanto alguém lutar para que esta sociedade funcione e ele possa viver numa democracia. Será essa a única atitude coerente?

sexta-feira, junho 24

Expedientes

O meu pc resolveu tirar umas férias. Foi só por isso que não cumpri a minha penitência, Sofia.
Nos tempos que correm temos de usar alguns estratagemas para nos desenrascarmos. Contaram-me ontem este:

Cheguei hoje a casa e descubro que estão quatro ladrões a roubar carros na garagem. Telefono à polícia. Dizem que agora não podem vir, não há viaturas disponíveis. A necessidade aguça o engenho. Passados dois minutos telefono novamente. Senhor guarda, já não precisa de vir. Já matei os ladrões. Dez minutos depois aparecem dois carros da polícia e uma ambulância, cercam o prédio e acabam por prender os ladrões.
Então o sr. não tinha morto os ladrões?
Então o sr. não podia vir?

Factos politicamente incorrectos


Pim Fortuyn, era um professor universitário que considerava que os imigrantes muçulmanos radicais estavam a ameaçar a sociedade holandesa, pois não respeitavam os valores da tolerância e democracia. Pretendia que fossem criadas limitações à sua imigração para a Holanda. Era um indivíduo bastante complexo a quem era difícil enfiar a carapuça racista. Por exemplo, era um homossexual assumido.
Considerava que a Holanda, com 16 milhões de habitantes, não podia continuar a receber 40.000 exilados por ano. Pretendia restringir fortemente a imigração de muçulmanos, garantindo a nacionalidade a muitos dos que já lá se encontravam, desde que aceitassem a democracia, os direitos das mulheres e dos homossexuais e renegassem práticas como o apedrejamento dos adúlteros e o a decepação das mãos dos ladrões.
Foi eleito primeiro candidato de um novo partido que pretendia concorrer às eleições de legislativas de Maio de 2002. Uma sua entrevista a um jornal levou à sua demissão do partido. Na sequência dessa demissão criou um outro partido. Muitos dos seus apoiantes seguiram-no. Em Março de 2002 o seu partido obteve 36% dos votos nas eleições locais em Roterdão, tornando-se a maior força política da cidade. O Partido Socialista perdeu as eleições pela primeira vez desde a segunda guerra mundial.

Fortuyn foi assassinado por um ecologista defensor dos direitos dos animais chamado Volkert van der Graaf poucos dias antes das eleições nacionais. O seu partido obteve 17% dos votos nessas eleições. O seu lugar foi tomado pelo número dois do partido, um negro de origem cabo-verdiana.
Esta história foi rapidamente calada pela comunicação social.
Amanhã apresento um facto politicamente incorrecto onde os muçulmanos são os bons da fita. Adivinham qual é?

To find the moon

Lembram-se do tempo em que neste blog se traduzia umas poesias? Um leitor do Prozacland escolheu as traduções de To find the moon feitas pela Sofia, pela Wind e pelo Faber Castell. Podem vê-las aqui. Voltaremos em breve com mais uns desafios poéticos.

quinta-feira, junho 23

...Blog existo

Faço minhas as palavras do Lutz. Foi o ...Blog existo que me contaminou com esse vírus não identificado que leva alguém a ter a ideia louca de se meter num blog. Parabéns pelo dois anos!
O post de hoje deste blogger veterano devia ser motivo de reflexão para todos os bloggers.

Vem aí um Le Pen?


O desemprego em Portugal vai continuar a aumentar. Estamos a passar pelos fenómenos que ocorreram em Espanha no tempo de Felipe Gonzalez. Agravados por um período de diminuição de fundos comunitários, crescimento da economia chinesa e aumento dos preços do petróleo. Os tempos difíceis ainda nem começaram. Eu esta semana estou optimista. Quando ando pessimista, faço posts sobre yoga.

Existem três grupos sociais que podem criar problemas sérios:
A comunidade imigrante, principalmente os imigrantes de segunda geração. São sempre os primeiros a sentir os efeitos da crise económica.
Os desempregados de longa duração que vão ser criados pela crise económica. É possível que cresçam as aitudes racistas e as atitudes xenófobas em relação aos emigrantes de leste. Especialmente quando eles começarem a subir na escala social.
Os filhos família com expectativas extremamente elevadas que não conseguem sequer sair de casa dos pais. O comportamento político destes jovens é completamente imprevisível e potencialmente explosivo. Ninguém lhes explicou que a vida é difícil. A sua fúria será mais do que justificada.

A emigração em Portugal segue a percurso da emigração em França com uns anos de atraso. O aparecimento de um partido ao estilo Front Nationale em Portugal na próxima década é uma possibilidade muito séria. Muitos dos votantes da Front Nationale eram antigos comunistas. Agora que Cunhal morreu, esse tipo de transição torna-se possível. A nossa sociedade civil não se pode dar ao luxo de não olhar para estes problemas de forma racional. Se ignorarmos os problemas, eles não vão desaparecer.
Ser inconveniente a ponto de levantar a possibilidade do aparecimento de um fenómeno Le Pen em Portugal não significa nem de perto nem de longe que eu desejo que tal aconteça.

Acreditam que existe o risco de surgir uma partido racista em Portugal com mais de 10% dos votos? Porquê?
Se acreditam, que podemos nós fazer para o evitar?

Para um arrastão não traumático

Anuncia-se para este verão um forte policiamento das praias. Como é difícil com lençol curto tapar os pés e a cabeça, arriscamo-nos a ter problemas em terra.

Tem-se registado uma preocupação grande entre as populações e em vários sectores de opinião, na sequência do caso do arrastão e das notícias sobre assaltos em comboios. As preocupações vão em sentidos desencontrados: há quem receie a insegurança e há quem esteja mais inclinado a denunciar os riscos de surgimento de racismo e xenofobia. Esta última atitude tem sido bem visível em declarações do BE e de sectores próximos de outros partidos que se convenciona referir como de esquerda e dá voz ao sentir de estratos sociais numericamente significativos. Uma discussão que teve lugar neste blog a respeito do assunto é exemplo ilustrativo.

Foi aqui proposta e debatida uma ideia para resolver o problema. Consiste em treinar os cidadãos em artes marciais para fazer face a eventuais tentativas de agressão. Eu creio que a ideia peca por não ser universalmente aplicável: não podemos exigir isso a crianças, senhoras e idosos, o que os tornaria presas ainda mais fáceis.

Em contrapartida, lanço aqui uma proposta diferente. Trata-se apenas de pôr as pessoas certas nos lugares certos: como agora se diz, fazer uma gestão eficiente de recursos humanos. Em particular, dispensa o policiamento intensivo de certos locais deixando outros em perigo. E procura harmonizar as preocupações de sentidos diferentes.

1. O BE e demais partidos interessados promoverão a formação de uma bolsa de cidadãos, que poderemos designar por arrastados voluntários, dispostos a cooperar na operação. Estes cidadãos deverão comprovar um elevado sentido de culpa pelo passado colonial europeu e tendências fortemente multiculturalistas, tudo certificado pelos Drs Júlio Machado Vaz e Daniel Sampaio.

2. A CP cria uma carreira semanal Benfica-Cacém e volta, onde voluntários recrutados têm passagem gratuita. Cada voluntário deve ser portador de um telemóvel com ecran a cores e 50 euros (assalto mínimo). O horário será divulgado junto dos potenciais interessados em arrastar o que quer que seja, juntamente com a indicação de que a PSP se compromete a manter-se longe dos locais de trajecto durante a viagem.

(A julgar pelos indícios que temos, voluntários não faltarão. E a operação deixará todos felizes. Algum jornalista que queira inteirar-se do sucedido terá dificuldade em saber quem é vítima de quem.)

3. Para evitar cair na monotonia pode reservar-se, uma vez por mês, uma carruagem destinada aos rapazolas que promoveram a manifestação no Martim Moniz. Esses estão dispensados de levar o telemóvel e os euros.

Eu não me ofereço porque entendo que já dei o suficiente. Tendo morado durante 15 anos numa rua de Lisboa vizinha de bairros problemáticos, fui assaltado três vezes, por pequenos grupos (nunca mais de 12 jovens), tendo-me sido arrastados 3 telemóveis e alguns euros. Também tive um vidro de um carro partido e levaram-me o canhão da ignição. Por duas vezes ao dirigir-me para casa tive de ir dar uma volta para bem longe porque um grupo que eu já bem conhecia estava à porta do prédio para ver quem chegava. Certa noite um vizinho meu foi espancado no hall e não me apetecia que repetissem a mesma dose comigo.

quarta-feira, junho 22

Crime e Castigo


Para que a sociedade funcione, convém que exista a polícia. Convinha também que no fim das nossas vidas fosse feito um balanço. Que se separassem os bons dos maus. Que se premiassem os bons e se castigassem os maus.
Isto porque todos nós sabemos que a polícia não resolve todos os problemas. Para além do mais do mais, existem muitos actos imorais e altamente lesivos para quem os sofre que não infringem a legalidade.
Na catequese forneceram-me um modelo que fazia sentido. Depois da morte os bons, os maus e os assim-assim eram separados. Os assim-assim juntavam-se aos bons depois de purgados. Os maus eram torturados pelo Diabo. O Diabo era um uma espécie de bad cop. Castigava os maus, portanto servia o Bem.
Se não existe diabo (e não existe inferno), qual é o castigo para os nossos pecados?
Qual é a razão para ser bom?
A questão põe-se em dois planos. O plano teológico, aquilo que se ensina às pessoas cultas, e o plano catequético, aquilo que se ensina às massas incultas. Sei que não estou a usar correctamente as palavras teológico e catequético.
Se no plano teológico não se tiver uma boa resposta, a morte do Diabo acarreta a morte de Deus. Se no plano catequético não tivermos uma resposta, ficamos um passo mais perto da anarquia.
As minhas respostas, numa versão simplificada: Os Maias, e a polícia.
Gostava de saber a resposta dos cristãos. Penso ter percebido a posição do Bernardo Motta: o inferno existe. Quanto à Céu, à Maria da Conceição e ao CA, não imagino qual possa ser a sua resposta.

terça-feira, junho 21

O essencial e o acessório 2


Como a corrupção no futebol ultrapassou novamente todos os limites, há que fazer alguma coisa para que fique tudo na mesma. Como os árbitros agora são nomeados, vão passar a ser sorteados. Quando são sorteados, voltam a ser nomeados.
Toda a gente sabe que o problema da arbitragem é o método como os árbitros são avaliados. Mas se mudassem o método de avaliação, corriam o risco de acabar com a corrupção no futebol.

O catecismo e o diabo


A propósito de um post sobre o diabo no catolicismo, que apareceu no Espectadores o Lutz pediu comentários aos amigos católicos. Aqui ficam alguns comentários (sobre os vários posts) que, pela sua extensão, me pareceu que mereciam um post. Encorajam-se naturalmente comentários.

Há um núcleo restrito da doutrina católica que corresponde aos dogmas ou verdades da fé e que, esse sim, é o que define o catolicismo. E mesmo as verdades da fé são expressões humanas de uma realidade que transcende largamente a nossa inteligência, pelo que nunca deveriam ser abordadas com a arrogância de certos movimentos mais conservadores. Bem podemos dizer que sabemos tudo sobre Deus, os anjos e os demónios que, se isso não servir para vivermos a vida a amar como Deus ama, ficaremos na mesma.

A frase "porque aquilo que é compreeendido é mais facilmente professado" poderia dar a entender que se conseguia compreender muita coisa sobre o diabo. Mas a verdade é que aquilo que é afirmado no catecismo, por exemplo, não nos permite propriamente compreender mais sobre o diabo nem detectar efectivamente a sua acção.

O catecismo tem claramente mais do que aquilo que é verdade essencial da fé e está a ser constantemente alterado. Um exemplo é a afirmação do então cardeal Ratzinger:


Pensar que um católico tem que seguir cegamente tudo o que diz o catecismo é não perceber todas estas nuances. Quanto aos autores católicos, como S. Tomás de Aquino, têm que ser enquadrados na sua época e, em si mesmos, não têm um valor autónomo. Posso ignorar totalmente S. Tomás de Aquino e ser um católico perfeito.

Quanto ao diabo, a Igreja, com base na Bíblia, foi desenvolvendo certas convicções sobre esta entidade que personifica o mal. Para algumas pessoas, em certas épocas, a ideia do Diabo tê-las-á ajudado a viverem melhor a sua fé. Hoje é-nos mais difícil explicar tal entidade e parece pouco útil do ponto de vista pastoral. A atitude de muitos católicos é admitir o mistério, é admitir que há mais coisas do que aquelas que podem hoje compreender e centrar-se noutros aspectos. Isto não quer dizer que neguem ostensivamente a existência do Diabo mas também não sabem bem o que dizer de útil sobre ele.

Quanto à afirmação do Bernardo: "no dia em que o ritual do exorcismo desaparecer da prática da Igreja Católica, ter-se-á dado uma enorme machadada na estrutura basilar da concepção católica do mundo criado por Deus" ela mostra a confusão entre o essencial e o acessório. Um ritual não é essencial e pode desaparecer da prática sem qualquer problema. Mesmo hoje o ritual está sujeito a grandes restrições e, sendo católico há bastantes anos, nunca tive conhecimento directo de que tivesse sido praticado.

Finalmente, é um pouco cansativa a insistência de certos católicos em procurarem aspectos específicos para atirarem a outros católicos dizendo-lhes: se não pensam como eu não se podem dizer católicos.

João disse a Jesus: «Mestre, vimos um homem que expulsa demónios em teu nome. Mas nós proibimos-lho, porque ele não nos segue». Jesus disse: «Não lho proibais, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois vai dizer mal de Mim. Quem não está contra nós está a nosso favor. (Mc. 9, 38-40)

O essencial e o acessório

Normalmente desviamos uma discussão para longe dos temas que mais nos inquietam. Muitas pessoas fazem isso inconscientemente. Outras talvez não.
O que é essencial no arrastão? É o facto de os roubos que ocorrem na praia de Carcavelos terem furado parcialmente a barreira da comunicação social. Enquanto estes factos políticamente incorrectos não eram noticiados, podíamos dormir tranquilos.
Se houve um arrastão ou não é quase irrelevante. Da próxima vez que acontecer alguma coisa, a comunicação social terá muito mais dificuldade em não cumprir a sua missão. Se desta vez a notícia foi sobredimensionada, esse é o preço que normalmente se paga quando se cala a verdade sistematicamente durante anos. Centrar a discussão no eventual empolamento do arrastão é discutir o acessório.

segunda-feira, junho 20

O aborto e as touradas


Votei a favor no referendo sobre o aborto. As touradas não me dizem nada. Não vejo qualquer problema no casamento de homossexuais.
É curioso como as coisas mudam quando se passa a fronteira. Mas não é de Espanha que eu quero falar.

Não tenho quaisquer afinidades com o mundo dos touros. No entanto, se houvesse um referendo sobre as touradas, eu votava a favor da situação actual. A violência nas touradas é contrabalançada pelo facto de o homem também correr riscos. Os forcados até parece que vão lá só para apanhar. Deste ponto de vista a tourada é bem diferente das lutas de galos e das lutas de cães. Por outro lado a violência das touradas está ritualizada. A violência bruta é sublimada pelos aspectos artísticos do toureio. Aprende-se a controlar os nossos impulsos mais primitivos.
Certos sectores mais rurais da nossa sociedade continuam a ter necessidade de deitar cá para fora os seus instintos guerreiros, quer nós gostemos disso ou não. Todos nós temos muito a ganhar se isso for feito dentro das praças de touros. Se eles querem organizar cinquenta touradas por anos com tanto afinco, será assim tão importante para nós impor a nossa vontade?

Ninguém defende o aborto, suponho eu. É uma acto horrível que pode ser às vezes o menor dos males. A maioria das pessoas que são contra o aborto tomam essa posição porque se sentem genuinamente chocadas pelo acto. Se queremos que elas aceitem coisas com que não concordam, podemos começar por analisar a questão das touradas com um pouco mais de abertura de espírito.

Serviços mínimos


Neste momento é claro que considerar que os exames são um serviço mínimo se baseia no impacto psicológico que teria para os alunos o seu adiamento.

Quando os médicos fazem greve são adiadas consultas e cirurgias programadas (por vezes há muito tempo) o que tem um indiscutível efeito psicológico sobre muitos utentes, além do efeito físico de permanecer o problema que se pretendia resolver. Ora estes adiamentos não levam a que se declarem serviços mínimos todos os serviços de saúde. Assim, estamos a assumir que os exames são algo de um enorme impacto psicológico.

Fará parte da educação das crianças e dos jovens o passarem por estes exames com tal carga psicológica? É isto que se pretende quando se diz que os exames devem ser obrigatórios no 9.º ano e eventualmente em anos anteriores?

domingo, junho 19

O "pronto a pensar"

Na questão da Procriação Medicamente Assistida (PMA) e noutras ligadas à bioética, a Igreja tem uma posição cozinhada, tipo "pronto a pensar". Muitos católicos (e não só) embarcam rapidamente num desporto da moda: aceitar a posição da Igreja sem pensar e tentar depois arranjar-lhe justificações. Uma caricatura a propósito da contracepção é uma sequência do tipo:
1.º O Papa diz que é pecado.
2.º O fiel aceita porque o Papa diz.
3.º O fiel apercebe-se realmente que a pílula tem contra-indicações.
4.º O fiel passa a usar as contra-indicações da pílula como argumento de apoio à posição do Papa e sente que afinal o Papa tem razão.
5.º Se a discussão for acesa o fiel fuma uns quantos cigarros no intervalo (pois nenhum Papa até agora disse que o cigarro era pecado e há até bispos fumadores).



Voltando à PMA, quantas pessoas pensaram realmente a sério no assunto? Quantas sabem que há uma ligação fortíssima entre esta questão e a do aborto? Na anterior legislatura houve propostas dos partidos de esquerda (PS e BE) que mostravam claramente que nem os deputados percebiam as implicações do que andavam a propor.

Portugal e Itália

Caro Dr. Sócrates,

A semana passada realizou-se um referendo em Itália sobre a fecundação assistida. A lei actual é a mais restritiva da Europa. A igreja católica fez campanha pela ... abstenção. Desde que cinquenta por cento dos eleitores não votassem, o referendo não tinha valor vinculativo e a lei ficava. Foi o que aconteceu. Apesar de oitenta por cento dos votos serem contra a lei.

Em 1998 o PS e o PCP aprovaram uma lei de liberalização do aborto na Assembleia da República. O seu antecessor socialista, o Dr. Guterres, decidiu que a lei deveria ser suspensa e convocou um referendo. O referendo só teria valor vinculativo se mais de 50% dos eleitores votassem. Não teve valor vinculativo, a lei devia manter-se. Guterres fez uma interpretação altamente discutível dos resultados.

O papa Bento xvi veio agora explicar-nos como se fazem as coisas. Se Sua santidade tivesse explicado a sua posição a Guterres na altura, a lei do aborto aprovada em 1998 na Assembleia da República estaria agora em vigor. Estou à espera que a reponha. Até pode votá-la outra vez no parlamento. Deve passar com uns 80% de votos a favor.

... E pode contar com a benção da igreja católica.

sábado, junho 18

O medo


Milhões de portugueses não compreendem a sociedade em que vivemos. Sentem-se sós, com medo, e reagem das mais diversas formas. Muitos dos que compartilham os medos dos participantes de hoje na manifestação do Martim Moniz tiveram a oportunidade de ouvir alguns disparates da boca deles. Os suficientes para não se identificarem com eles. Se a manifestação fosse proibida, até podia ser que se juntassem a eles da próxima vez.

Ana Drago seria provavelmente capaz de perdoar um negro que lhe roubasse a carteira na praia de Carcavelos. Tem mais dificuldade em estender a sua compaixão a um branco que também rapa a cabeça, que também é movido pelo medo. Será porque tem medo de que o modelo de sociedade em que quer acreditar não seja realizável? A verdade é que não contrapôs quaisquer argumentos ao discurso populista de Nuno Melo na Assembleia da Republica. Adjectivos não são argumentos. Se não se discutem ideias na Assembleia da Republica, onde é que as vamos discutir?

Porque é que os media deram a entender que a manifestação de extrema direita de hoje ia descambar na violência? Jogaram com o nosso medo? A nossa democracia é tão frágil que não se pode permitir que meia dúzia de skinheads digam umas asneiras? A democracia é também o direito à asneira.

Será que as cabeças bem pensantes da nossa sociedade pura e simplesmente não querem ser incomodados com factos que não encaixam nas ideologias em que acreditam?
Estamos atrasados uns vinte anos em relação à França nos problemas da emigração. Se as pessoas que se acham donos da nossa democracia continuarem a ignorar os medos dos nossos descamisados, podem estar descansados que aparecerá um Jean-Marie Le Pen para os ouvir.

Vamos nós dar o exemplo, tentando assumir e controlar os nossos medos?

Deixe a sua opinião. Insulte-me. Não tenha medo...

Foto daqui.

To find the moon


after you ring off
I go to find the moon -
like you
it's north of here
and just as far away

Aqui temos mais uma proposta de um poema para traduzir.

Desta vez trata-se de um tanka. É um haiku um pouco mais longo. Ao contrário do haiku, originalmente mais voltado para fixar uma sensação que nos foi induzida pela contemplação da natureza, o tanka é um poema lírico. Como toda a poesia japonesa, é normalmente mais intuitivo do que analítico, recorrendo mais à imagem do que à abstracção. Normalmente ocorre uma mudança subtil a meio do poema relacionando imagens, acontecimentos ou ideias de forma inesperada.

sexta-feira, junho 17

Coerências

Em elogios fúnebres muito repetidos nos últimos dias, temos assistido ao enaltecer da coerência como virtude. O caso não é simples. Eu quase aposto que os figurões que, por obrigação institucional, têm de vir tecer louvores aos mortos importantes nos jornais e na tv, podem ser postos perante um dilema que os leva a pensar assim: "Não me ocorrendo a respeito do defunto nada melhor, deixa-me lá dizer que era muito coerente. Que lutou até ao fim pela mesma ideia."

O problema é que, se pensarmos em figuras para um Museu de Cera da Coerência ou da Luta por Uma Ideia, temos de alinhar Estaline, Mao, Hitler, Salazar, Franco, Mussolini, Pol Pot, Bin Laden e o mullah Omar, Sadham, os Taliban que baniram a música, reduziram a zero a existência das mulheres e destruiram arte no Afganistão, e mais, muitos mais.

Também se encontra coerência e defesa intransigente de uma ideia em personagens que não possuem a aura negativa das daqueles exemplos. Os chamados santos e alguns dirigentes religiosos constituem uma outra categoria de coerentes. Eu acho que a irmã Lúcia foi coerente. João Paulo II nunca permitiu qualquer desvio aos princípios em que acreditava, mesmo que seguir tais princípios pudesse por em risco, potencialmente, vidas humanas. Tudo indica que Ratzinger-Bento XVI manterá a mesma atitude.

Curiosamente, não me recordo de ouvir, da parte de certas figuras que nos últimos dias descobriram a virtude da coerência no nosso recem-falecido, apreciações sobre estas coerências. Se me recordo de alguma coisa é de críticas.

Deste modo, se dúvidas eu tinha sobre o carácter esquivo da coerência como virtude, elas acentuaram-se ao constatar a incoerência dos seus porta-vozes.

quinta-feira, junho 16

Revisitemos então o Código da Vinci...


O Codigo da Vinci é um livro muito agradavel. Lê-se de um folego. Inventa umas teorias absolutamente deliciosas sem sentido absolutamente nenhum. Nada para levar a sério. Ao fim deste tempo todo ainda há pessoas que discutem o assunto. Porquê?

Uma das possíveis razões seria a afirmação feita no último paragrafo do livro antes do Prólogo: todas as descrições de obras de arte, edifícios, documentos e rituais secretos feitos neste romance são exactos.
Convem lembrar que Humberto Eco afirma que o manuscrito do Nome da Rosa foi escrito por um certo Abade Vallet que por sua vez reproduz uma manuscrito do século catorze encontrado no mosteiro de Melk. Estas frases aparecem só para criar um clima que ajude a dar verosimilhança à historia.
Ninguém levou a sério Humberto Eco. Mas levam a sério as afirmações de Dan Brown. Como é que este senhor ganhou tanta credibilidade? Paulo Coelho vende milhões, diz coisas bem estranhas e nunca teve direito a publicidade paga pela igreja.

A última ceia é um quadro muito estranho, não é? Dan Brown encontra uns factos interessantes que dão que pensar. Faz bem o seu trabalho. Um romance tem que ser verosímel. Isso só prova que Leonardo da Vinci tinha algumas ideias bizarras, tal como Newton e tantos grandes homens... Todas as extrapolações sobre a Biblia que Brown faz a partir da obra de da Vinci são infantilmente abusivas. O que não quer dizer que não sejam verosimeis durante as cinco horas que levamos a ler o livro. Até as historias do Harry Potter são verosimeis. Pelo menos para mim.

A National Geographic desafia Dan Brown para participar num programa onde se discutem as questões levantadas no Código. Se Dan Brown for lá dizer que aquelas teorias foram inventadas para vender o livro e que não acredita em nada, não há programa. O homem perde milhões em publicidade. Tem portanto de fazer o que lhe pediram e encarnar mais uma vez o narrador do livro. Parece-me mais questionavel o facto de Umberto Eco participar num programa deste tipo. Eco é um professor universitário com uma reputação a defender. O seu amor pelas antiguidades deve ter falado mais alto.

A que deve então o Codigo da Vinci tanta publicidade gratuita? Como é possível que um romancista tenha ganho tanta credibilidade a ponto de tanta gente o querer refutar?

O livro de Kells

Como me disse uma vez um teologo protestante holandês, a maior provação para a fé de um cristão consiste em proceder à uma análise critica da forma como foi escrito o Novo Testamento. Aprendemos que existem quatro evangelhos, que foram escritos por quatro apóstolos. Era essa a crença tradicional. No entanto a posição oficial da igreja não é essa. Sabe-se agora que esses evangelhos foram escritos depois da morte dos apostolos. Marcos é o evangelho mais antigo, escrito por volta de 65-70, Mateus foi escrito depois de 75, Lucas entre 80 e 90 e João entre 95 e 100.

Os católicos acreditavam que Lucas foi baseado em Marcos e Marcos em Mateus. Os protestantes pensavam na sequência Mateus-Lucas-Marcos. Depois de 1863 passou-se a acreditar que existe um evangelho que se perdeu, denominado pela letra Q, e que Lucas e Marcos se basearam em Mateus e Q. Quando se começa a discutir as coisas nestes termos torna-se mais dificil a visão simplista segundo a qual os evangelhos foram escritos directamente sob a inspiração divina. Também há pouca gente que saiba que o papa só passou a ser infalivel em 1870.

Brown aflora outros assuntos incomodos do mesmo tipo, como o facto de Constantino, um imperador romano pagão, ter tido um papel decisivo no estabelecimento dos dogmas da igreja que são encarados pela maioria dos cristãos como valores eternos acima de quaisquer arbitrariedades.

A maior parte dos cristãos não tem bagagem intelectual para lidar com estas verdades que normalmente estão confinadas a um pequeno grupo de pessoas. Ao popularizá-las, Dan Brown põem em causa a estabilidade da Igreja. Há portanto que refutar as parvoíces que Dan Browm diz sobre Maria Madalena e o Graal. De caminho as pessoas esquecem as outras afirmações, as que são indisputaveis verdades. Brown aumentou dois zeros à sua conta bancária com um pequeno golpe de génio: identificou o ponto crítico da igreja, e disparou cinco centimetros ao lado...

Esta é a única explicação que arranjo para o facto de tanta gente sentir a necessidade de refutar o Código da Vinci. Um amigo meu, uma pessoa muito inteligente e um catolico fortemente conservador, passou meia hora a refutar as minhas supostas ideias sobre o Codigo da Vinci. Ao que parece nem reparou que eu não defendi as teorias do Código nem sequer uma vez.

Brown evitou entrar em polémicas sérias. Um dos grandes problemas dos evangelhos é a questão da ressurreição de Jesus. As versões são contraditórias e parecem ter sido acrescentadas mais tarde. Não estou interessado em convencer ninguem de nada. Se estiverem interessados no assunto, peguem numa Biblia, leiam isto, isto e isto, e tirem as vossas conclusões.

Podíamos continuar esta discussão factual. Não é assunto que me interesse por aí além. Parece-me mais importante deixar claro que não considero que saber mais sobre estes assuntos ponha necessariamente em causa a fé cristã. Apenas obriga a repensá-la e aprofundá-la. Convém no entanto lembrar que eu sou um ateu empedernido.
Não queria terminar sem dizer que acho muita graça quando vejo um cristão progressista entalar um cristão mais conservador com uma citação da Biblia. Acho que este exercício de retórica pode ser muito útil para ganhar tempo enquanto as coisas não melhoram. Espero que o cristão progressista não dê demasiada importância à retórica.


De qualquer forma é um pouco estranho pensar que temos quase todos este quadro em casa. O que é que aquele senhor quer fazer com aquela faca aquela senhora?
É verdade! aquela senhora não é uma senhora.

Para o Eugénio

Os poetas enfadam-me
Não leio os poemas dos outros
Não compro livros de poesia

As mãos escrevinham letras
Não posso deixá-las desalinhadas

Nada do que faço é meu
Já foram escritos todos os os poemas
Alguém os numerou no Primeiro dia
Apenas escolho um deles

Deixem a ilusão aplacar a dor
Por uns segundos


Apareceu nos comentários.

Falta um mês


para sair o sexto livro do Harry Potter. Não deixo para amanhã o que posso ler hoje.

segunda-feira, junho 13

Eugénio de Andrade 1923-


Era impossível não reparar naquele senhor tímido que aparecia às vezes na televisão a contragosto. Como ele era diferente. Nunca concorreu a nada, nem sequer a uma promoção na sua carreira de inspector de saúde. A sua poesia bastava-lhe.

A música das palavras.

O teu blog
à distância de um clique.
Onde te escondes?
Anónimo
Porque escreves
todos os dias?
Anónimo
Para soltar
do pensamento
a música das palavras.
M
Para dizer sorrindo
O que calo chorando.
Mitsou
E tu...
porque me lês
todos os dias?
Roubado à Sofia

Assim terminamos este renku. Agradecemos a todos os participantes.

Jorge de Burgos


A personagem central d' O Nome da Rosa sempre me fez lembrar Álvaro Cunhal. Nunca consegui detestar o bibliotecário cego inspirado em Jorge Luís Borges.

sábado, junho 11

Igreja e democracia

Amanhã e depois os italianos vão votar num referendo. O que faz desse referendo notícia é o facto de a Conferência Episcopal Italiana, apoiada pelo Papa (Bispo de Roma) apelar à abstenção como forma de invalidar o referendo pois, sem que a maioria dos eleitores vote, a lei a ser referendada ficará como está.

Uma atitude destas em democracia é uma evidente falta de respeito pela maioria, que eventualmente poderá e deverá ser anulada usando outros mecanismos da democracia.

Como católico devo deixar aqui escrito que me parece profundamente incorrecta esta forma de estar em democracia, esta forma de fazer política. Se a razão não é suficiente para convencer a maioria do eleitorado das suas posições, a minoria não deve pôr em causa os próprios mecanismos de decisão apenas para evitar que a vontade da maioria se concretize.

A Igreja Católica tem uma longuíssima história de intervenções políticas nas sociedades onde se insere e uma também longuíssima história de desastres provocados, posições profundamente imorais, associação a todo o tipo de poderes anti-evangélicos. Tantos erros aconselhavam seguramente muito mais prudência e não uma tentativa de mobilizar minorias contra a democracia. Mas a vontade de influenciar parece ser muito maior do que a humildade de reconhecer as próprias limitações.

Quanto ao assunto do referendo, ele não é de todo um assunto menor mas não pode ser abordado à pressa e hoje não tenho o tempo para falar dele. Espero tratá-lo numa próxima oportunidade.

A música das palavras

O teu blog
à distância de um clique.
Onde te escondes?
Anónimo
Porque escreves
todos os dias?
Anónimo
Para soltar
do pensamento
a música das palavras
M
Para dizer sorrindo
O que calo chorando
Mitsou

Enviem-nos poemas de três linhas para encadear neste renku.

Construir um bot

Muita gente descobriu a existência dos blogues através do Abrupto. O blogue de Pacheco Pereira transformou-se rapidamente na porta de entrada da blogosfera portuguesa. A forma mais simples de descobrir blogues era entrar no Abrupto e olhar para as Referring Web Pages que se encontram nas ultimas linhas do blogue. O Prozacland também tem este sistema de intercambio entre blogues. Sempre que um blogue tem um link para o Prozacland e alguem o usa, esse blogue é aqui anunciado. É uma forma de pagar anuncios com anuncios e estimular os outros blogues a colocarem links para o nosso. Como as referring web pages do Abrupto tinham centenas de referencias só os blogues que apareciam nos primeiros lugares da lista tinham uma possibilidade séria de chamar a atenção dos blogonautas. Blogues com tráfico médio de trinta pessoas por dia "enviavam" em algumas horas cem visitantes para o Abrupto... Havia portanto que clicar umas centenas de vezes no link do nosso blogue para o Abrupto. Algums bloggers faziam-no sistematicamente todas as semanas. Não sei se o faziam à mão ou não. Uma forma menos trabalhosa de o fazer é construir um bot que o faça por nós. Pacheco Pereira desligou as suas referring web pages no segundo aniversário do seu blogue.

Nos tempos aureos da bolsa um amigo meu construiu um bot com meia dúzia de linhas de código que ia buscar todos os dias os gráficos da cotações de cinquenta acções em alguns segundos. Fazer esses downloads à mão levava cerca de uma hora.

Estas são algumas das muitas tarefas que um bot pode desempenhar. Como não podemos "comprá-lo feito", temos de o construir. Para construir um bot, temos de aprender uma linguagem de programação. As mais conhecidas são REBOL, PHP & PERL.

A REBOL é a mais fácil de aprender, pois apresenta uma linguagem unificada para vários protocolos da internet: HTTP (navegação na net), FTP (envio de ficheiros), e os muitos protocolos para o envio de mensagens, escondendo do programador os detalhes destes protocolos (inconveniente quando se quer ganhar controle sobre esses mesmos detalhes); permite escrever programas interessantes com poucas linhas de código; possui uma linguagem de parsing poderosa. Só a versão completa, bastante cara, permite interacção total com o computador e com bases de dados.

Já agora, quando quiser compreender algum termo mais tecnico ligado à internet, tipo http, ftp e nntp, consulte a Webopedia.

PHP & PERL são linguagens livres que funcionam em diversas plataformas (windows, o unix, o mac, etc), com uma grande base de utilizadores. É bastante mais facil encontrar programas em PERL que possamos adaptar às nossas necessidades. Estas linguagens são mais dificeis de aprender.

Convém aprender alguns detalhes sobre a escrita de documentos em HTML (ver o b-a-ba na secção HTML and XML tutorials) assim como alguns detalhes sobre o protocolo HTTP, (ver o livro OReilly - HTTP Pocket Reference.chm). Ver detalhes tecnicos nos comentários.

AD

sexta-feira, junho 10

O grande segredo da sociedade portuguesa

Quando já se circula por este planeta há umas quatro décadas começa-se a pensar que já nada nos pode surpreender. E no entanto outro dia um amigo contou-me esta historia. Um jovem acabou os estudos. Arranjou um emprego a ganhar cento e vinte contos por mês, onde tinha de trabalhar bastante mais do que aquilo que para que estava preparado. Ao fim de um mês despediu-se. Explicou ao patrão: o meu pai acha que para estar a trabalhar tanto e só ganhar este ordenado mais vale ele dar-me os cento e vinte contos por mês...

Durante décadas a vida foi-se tornando sempre mais facil. Sucessivas gerações viram o seu nível de vida subir sistemáticamente ao longo do tempo. Os momento dificeis da vida existiram mas acabaram por ser esquecidos. Na escola prepararam-me para um vida dificil. Em especial durante os primeiros anos, no período em que se forma a caracter. Exigiram bastante de mim e deram-me a entender que as coisas iam ser sempre assim. Quando surgiram algumas dificuldades eu estava preparado para as aceitar e lidar com elas.

Para quê exigir tanto das crianças se afinal se vive cada vez melhor? No espaço de uma geração o ensino básico mudou completamente. Não se faz aquela pressão contínua que obriga os alunos a superarem-se um pouco todos os dias. Chegam ao ensino superior com espectativas erradas e estão a mudar as coisas. Professores cansados pela indiferença com que gerações sucessivas chumbam nas suas cadeiras acabam por simplificar as matérias. A pressão demográfica está do lado dos alunos: são cada vez menos, a oferta é maior do que a procura. São eles que tem o poder.

Quando se entra no mercado de trabalho a situação é diferente. Aí é empregador que é o rei. Muitos jovens que fizeram a escolha mais fácil começam a compreender que o dê erre que compraram não lhes vai servir de grande coisa. Esses e os outros vão finalmente entrar na escola da vida. Para eles vai ser um bastante mais dificil do que foi para a minha geração, mas vão acabar por se adaptar. Se os pais derem uma ajuda financeira durante uns tempos, é possível que consigam fazer a transição, embora a diferença entre as expectativas que lhes criaram e a realidade seja abismal.

Um jovem meu conhecido falava-me há uma ano com desprezo da possibilidade de arranjar um emprego a ganhar menos de setecentos contos por mês. Não estava a fazer nada que se visse para lá chegar. No outro dia encontrei-o numa caixa de uma grande superfície. Talvez ainda achasse que se tratava de uma solução temporária mas o primeiro passo estava dado, estava a enfrentar a realidade. Quando quiser sair da casa dos pais vai perguntar porque é que ninguem lhe explicou que a vida era assim tão dificil. Felizmente, não vou ser eu a ter de lhe dar a resposta.

quinta-feira, junho 9

A música das palavras

O teu blog
à distância de um clique.
Onde te escondes?
Anónimo
Porque escreves
todos os dias?
Anónimo
Para soltar
do pensamento
a música das palavras
M
Enviem-nos poemas de duas linhas para encadear neste renku.

O mistério das informações de trânsito

Dou comigo a pensar, intrigado, na mais que provável inutilidade do rosário de informações de trânsito que as nossas rádios nos entornam em cima, com destaque para a TSF e as "horas de ponta". Trânsito lento na 2ª circular? Olha que admiração e que novidade. Ainda se fosse na rua das Trinas ou na Maria Andrade, aí teríamos notícia. Normalmente, quando estou a conduzir e um anúncio desses é posto no ar, das duas uma: ou estou no meio do congestionamento e não posso fugir, ou, se sou obrigado a passar por lá, não é evidente se não perderei mais tempo procurando alternativas ou mesmo se, quando lá chegar, afinal não estará já tudo resolvido.

Isto não éum exclusivo português. Todas as rádios urbanas emitem este tipo de spots. Mas eu estou convencido de que se trata mais de um ritual do que de informação com real interesse prático.

quarta-feira, junho 8

Finalmente!

Saber quem era o editor ou o autor de um livro em Portugal, na era da Internet, ainda exigia ter um CD-ROM. Finalmente vamos ter on-line uma base de dados dos livros editados em Portugal.

terça-feira, junho 7

Zen e a arte do tiro ao arco


O Kyudo tornou-se famoso no ocidente com a publicação em 1953 do livro de Eugene Herrigel Zen e a arte do tiro ao arco. Este livro surgiu no princípio da expansão económica do Japão no pós-guerra e ganhou rapidamente uma influência prodigiosa devido à grande curiosidade sobre este país misterioso e então totalmente desconhecido. Herrigel descreve a sua iniciação ao Kyudo com o mestre Kenzo Awa na década de trinta. No kyudo atirar a flecha é um pretexto para nos conhecermos melhor. O praticante deve usar o arco com uma tensão suficientemente grande para que lhe seja difícil abri-lo. No entanto deve tentar abri-lo sem esforço, na postura perfeita, numa atitude mental de distanciação total do fim em vista: acertar no alvo. E no entanto deve acertar. A cena mais famosa do livro é aquela em que o mestre de Herrigel acerta duas flechas no centro do alvo, à noite, a segunda cortando a primeira, em condições em que seria impossível fazer pontaria, demonstrando-lhe assim que só se acerta não procurando acertar.
Eu e os meus amigos adolescentes sonhavamos com o dia em que poderíamos praticar tiro ao alvo e experimentar todas estas sensações subtis e empolgantes. O mês passado tive a grata surpresa de ver um velho amigo fazer uma demonstração de kyudo, arte que já pratica há quase uma década. Foi impressionante assistir à beleza do ritual e à velocidade incrível a que partiu a flecha. Pareceu que nem foi disparada! Realmente vivemos num outro país onde já é possível realizar muitos sonhos que há trinta anos não podiam passar disso mesmo...
Actualmente pode-se praticar Kyudo na Quinta da Cotovia, perto de Sesimbra, e no Aikideai, em Setúbal.

Na sequência deste interesse renovado no Kyudo descobri um artigo a vários títulos notável de Yamada Shoji. Este artigo defende uma tese à partida um pouco estranha. Afirma Shoji que o Kyudo não foi tão influenciado como se pensa pelo Zen. Terá sido o livro de Herrigel que terá transmitido essa ideia para o ocidente. Uma vez estabelecida essa ideia no ocidente, a grande reputação do livro levou a que os japoneses acreditassem que tal era verdade...
Será possível que tal coisa tenha acontecido? Não pretendo convencê-los a ler as trinta páginas do artigo de Shoji. Vou-me limitar a falar um pouco da minha experiência pessoal no assunto. Talvez possa ajudar a esclarecer as coisas, mesmo que tenham lido o artigo de Shoji.

Suzuki era um monge Zen e um erudito que defendeu sistemáticamente a influência predominante do Zen na cultura japonesa. A sua obra teve uma influencia muito grande no ocidente. Afirmou Suzuki que o Zen não utiliza a abstracção ou a conceptualização. Suzuki tem toda a razão. Esquece-se de afirmar que:
A outra religião dominante no Japão, o religião Shinto, ainda utiliza menos a abstracção e a conceptualização. Não se pode de forma alguma identificar a ausência de conceptualização com a existência de uma influência do Zen. Os japoneses não sentem grande necessidade de reflectir sobre as suas actividades.

Fiz a minha tese no Japão. O meu ex-orientador é um cientista extraordinário por quem tenho o maior respeito. A minha maior dificuldade foi a sua total não conceptualização da sua actividade. A investigação fazia-se e pronto. Não explicava porque havia vantagens em fazer as coisas de uma maneira e não de outra. Nem sequer parecia compreender o que é que eu pretendia com as minhas perguntas. Não era uma questão de não querer perder tempo comigo. Também não era um problema de língua.
Posso sem grande dificuldade descrever a minha experiência em termos Zen. Até arranjo uma pequena experiência de iluminação pouco antes de ter obtido a tese.
Apresento-vos a minha receita para um ocidental ter uma experiência Zen. Basta este tentar aprender a realizar uma tarefa sofisticada com um japonês por quem ele tenha respeito. O ocidental vai imediatamente tentar conceptualizar a actividade em questão. Quando apresenta as suas teorias ao seu professor vai defrontar-se com o vazio. O japonês não percebe sequer do que é que o ocidental está a falar. O ocidental vai projectar nesse vazio tudo o que lhe passa pela cabeça. As suas tentativas de compreender as não-respostas do mestre são o equivalente de tentar resolver um koan.
No caso de Herrigel foram ainda acrescentados mais alguns ingredientes: ele era um filósofo, era alemão, estava interessado no Zen, não conseguia comunicar com o seu mestre sem tradutor. As experiências cruciais aconteceram quando estavam sózinhos. Era impossível falhar...
Os japoneses não refletem muito sobre a sua sociedade. O livro de Herrigel apareceu numa altura em que os japoneses tentavam absorver o mais possível da civilização ocidental. Aparece aquele senhor tão erudito, tão bem conceituado no ocidente, a dizer coisas tão belas sobre o Japão. Só podia ser verdade...
Sempre teorizei sobre tudo e mais alguma coisa. Já devem ter reparado. Acabei porém por perceber os limites dessa conceptualização. Compreendo agora a atitude dos japoneses e consigo ver as limitações do ponto de vista ocidental. O que não quer dizer que eu tenha melhorado.

Reformas?


Tem-se discutido ultimamente se é legítimo que ume pessoa se reforme e acumule depois a reforma com rendimentos de trabalho. Parece-me que a reforma normal não pode ser entendida como um "subsídio de incapacidade" mas como o reconhecimento que a partir de certa altura a pessoa pode viver a vida como bem entender. Se depois a pessoa pretende trabalhar ainda, tanto melhor.

Por razões naturais de sustentabilidade, o que em média a pessoa vai receber de reforma deverá ser equivalente ao que descontou ao longo da vida activa. O estado só deve intervir em situações especiais, nomeadamente para assegurar que toda a gente tem um mínimo para viver com dignidade. Esta é uma componente social que deve vir do Orçamento Geral do Estado. Assim, o aumento da esperança de vida deve levar inevitavelmente ao aumento da idade de reforma.

As reformas ao fim de pouco tempo de trabalho não são reformas mas sim remunerações diferidas ao longo da vida toda, com uma incerteza associada ao tempo de vida do beneficiário; aliás pode calcular-se qual o montante actual que corresponde a uma reforma de n euros durante m anos (esperança média de vida do "reformado").

O que me parece profundamente imoral é que estes valores sejam retirados dos fundos de pensões ou da Caixa Geral de Aposentações. Se se quer pagar um ordenado fabuloso a determinados cargos isso deve estar explícito e não ser transferido como encargo futuro para um fundo de pensões de pessoas que ganham muito menos do que o beneficiado. Quando muito compre-se a pensão a uma instituição privada e logo se saberá o custo real.

Quanto à moralidade do próprio que recebe tais "reformas", se as entendermos como remuneração, então elas são um direito adquirido, eventualmente até foram uma condição para terem originalmente aceite o cargo que lhes deu direito a tal "reforma" e por isso não faz sentido que lhes seja pedido que abdiquem delas.

Where are you hiding?


Parabéns ao Samurai Zen, à M, ao Basho, à Murasaki e a um leitor anónimo. As escolhas da semana podem ser encontradas aqui.
Belisa, a tal tradução era a do Samurai Zen? Digam-nos nos comentários quais são as vossas escolhas e porquê.

Vamos usar o hyga do nosso leitor anónimo como mote para o nosso próximo renku.

O teu blog
à distância de um clique.
Onde te escondes?
Anónimo
Porque escreves
todos os dias?
Anónimo

Enviem-nos poemas de três linhas com ou sem links, para encadear no renku. Ficamos à espera! Os bloggers não podem fugir a esta questão...
E aqui fica uma bela foto do blog da Wind.

domingo, junho 5

Educação sexual é...

Domingo na TVI, Júlia Pinheiro (JP) conversa com uma ex-participante num concurso de televisão que lhe diz mais ou menos isto: "Estou em PMS. Era capaz de começar a chorar." JP parece embaraçada e diz: "Não vou dizer o que é o PMS mas é uma coisa que as senhoras têm uma vez por mês."

Para o leitor menos avisado, o PMS vem de Premenstrual Syndrome chamado em português Tensão Pré-Menstrual.

Devo confessar que me chocou um pouco o embaraço que me pareceu ver na Júlia Pinheiro. Muitas mulheres lidam desde a adolescência com alterações mensais no seu corpo e no seu estado de espírito mas o assunto parece ser algo que sentem que devem manter apenas entre elas, talvez como se fosse uma fraqueza. Parece-me que seria desejável que homens e mulheres aceitassem como normal que uma parte da humanidade funcionasse de forma ligeiramente diferente e todos estivéssemos preparados para lidar bem com isso, sobretudo quando uma mulher diz uma frase como "Estou em PMS. Era capaz de começar a chorar." As relações interpessoais ficariam certamente a ganhar.

Aqueles que pensam que isto é apenas um sinal de fraqueza, deveriam então colocar o fervor clubístico ao mesmo nível. Não sabemos nós que muitos homens, quando o seu clube perde, devem ser tratados de forma especial durante algum tempo?

sábado, junho 4

Where are you hiding?

Closer than each breath,
For you I look everywhere:
Where are you hiding?

Faça a sua tradução livre deste haiku de Martin Dace e deixe-a nos comentários.
Ou então produza um hyhaiga. Um hyhaiga é um haiku com um hyperlink. Pode encontrar aqui o código html que produz o hyhaiga

Sapo mergulha no prozac
blog!
satori adiado...

Ficamos à espera dos vossos haikus e hyhaigas...

Penso que também podíamos fazer trabalhos em colaboração. Alguém mais virado para a internet poderia pegar num dos haikus já publicados e juntar-lhe um hyperlink, assinalando o nome do autor do haiku. Deveria respeitar as normas do bom senso, não escolhendo um link que possa ofender a sensibilidade do autor...
Hyhaiga é muito longo. Que tal hyga? Lê-se haiga, como hyper se lê haiper...

Episódio II

O folhetim da "educação sexual" prossegue. As linhas gerais das notícias já estão aqui e o PÚBLICO de hoje confirma-as. Agora é a vez de uma equipa presidida por Daniel Sampaio fazer o seu número. O ministério, provavelmente em pânico com o pânico de alguns pais, soma e segue. Soma na coluna dos gastos, claro está. Nós pagamos. Mas, dada a delicadeza da matéria, não é impossível que depois da actuação da equipa dos novos iluminados os problemas se mantenham. A insensatez continua. O que deve ser ensinado sobre atitudes e comportamentos sexuais não pode ser incluido noutra disciplina de âmbito mais geral? Esquecem os responsáveis que, por muito competentes e sensatas que sejam as equipas que definem as orientações, quem vai actuar em campo é uma multidão de professores dos quais fatalmente uma larga percentagem terá visões próprias e altamente controversas sobre a matéria? O erro está em dar ao assunto o destaque de preencher uma disciplina inteira do currículo. Insensatez tanto maior quanto é verdade que a escolaridade está já sobrecarregada. O grupo de pressão dos psicólogos em excesso agradece. Preparemo-nos para as investidas seguintes, pois os sinais já andam por aí: talvez, quando este tema estiver arrumado, a nova proposta seja a de uma disciplina de educação nutricional, para prevenir os efeitos alarmantes da obesidade infantil...

Isto se o tema algum dia ficar arrumado, claro. Eu acho que o episódio II que agora começa não será o último.

sexta-feira, junho 3

O Jogo do Galo no Cilindro

ABC
DEF
GHI

Toda a gente sabe jogar ao jogo do galo num quadrado. Os jogadores vão jogando alternadamente marcando círculos e cruzes. Ganha quem completar primeiro uma linha horizontal, vertical ou diagonal. As diagonais são AEI e GEC. Vamos agora jogar o mesmo jogo num cilindro. Desenhe o jogo do galo num papel quadrado e una as colunas ADG e CFI de forma a obter um cilindro. Não precisa de as unir. Basta imaginar que o fez.
Passa a haver seis diagonais: por exemplo, HFA é uma diagonal. Quando começamos na letra H e nos deslocamos no cilindro para a direita e para cima vamos obtendo sucessivamente as letras
HFA:

ABC
DEF
GHI

ABCABC
DEFDEF
GHIGHI

As outras diagonais são as duas já referidas e DBI, BFG e DHC.

Tente jogar este novo jogo do galo. O objectivo continua a ser preencher uma linha, uma coluna ou uma diagonal antes do outro jogador. A diferença é que agora há mais quatro diagonais. Até dá para jogar no microsoft network. No jogo do galo no quadrado sabemos que se o ambos os jogadores jogarem bem o jogo acaba sempre empatado. Deixamos aqui algumas questões :

a Neste novo jogo do galo o primeiro jogador a jogar consegue ganhar sempre?
b Qual é a estratégia que permite ao primeiro jogador ganhar?
ou
... Qual é a estratégia que permite ao segundo jogador empatar?
c Porque é que essa estratégia funciona?

Quando tiver chegado a alguma conclusão sobre alguma destas perguntas, deixe-a nos comentários.

Este jogo ajuda a compreender a topologia do cilindro. Vamos em seguida jogar o jogo do galo noutras superfícies consideradas no post de geometria.

Educação sexual: notícias

Duas notícias sobre uma comissão independente criada pelo ministério da educação para avaliar a educação sexual nas escolas portuguesas. Destaco algumas passagens mas sugiro uma leitura completa.
Note-se que a comissão vai avaliar o trabalho das três instituições que colaboram com o ministério:

Daniel Sampaio afirmou hoje que a comissão «vai avaliar de modo científico» o ensino da educação sexual nas escolas que aderiram aos projectos elaborados entre o Ministério da Educação e organismos como a Associação para o Planeamento da Família, o Movimento de Defesa da Vida e a Comunidade Contra a Sida.»

Basho revisitado

Uma nova tradução de Furu ike ya:

Sapo mergulha no prozac
blog!
satori adiado...

Chama-se haiga à combinação de um poema haiku com uma pintura que o ilustre. Acabaram de assistir à criação de uma nova forma poética: hyga, de hyperhaiga, o haiku com hyperlink. O Prozacland vai realizar brevemente o primeiro concurso de hyga. Participe nesta estreia mundial.

Livros

Uma revista conservadora americana publicou uma lista dos dez livros mais perniciosos dos séculos XIX e XX (via Insurgente). Independentemente da metodologia usada para tal escolha e dos livros efectivamente escolhidos, não consigo perceber como é que se pode ter tanto medo dos livros ou considerá-los perigosos para pessoas adultas e equilibradas.

As ideias, tal como o conhecimento científico, não são boas ou más. E os livros apenas transmitem ideias. A distinção está no uso que fazemos dessas ideias. Talvez devêssemos procurar mais as causas que levam as pessoas a adoptar certas ideias e a agir contra os outros, em vez de andarmos preocupados com os livros que têm "ideias perigosas".

Já agora, se quisermos entrar neste jogo, podemos pensar na Bíblia e no Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, de Newton. A Bíblia esteve na base da Inquisição, de inúmeras guerras religiosas e da vida e do trabalho da Madre Teresa de Calcutá. Nos Principia, Newton introduz e desenvolve o Cálculo Infinitesimal e a Mecânica Clássica. Estas ferramentas estão, directa ou indirectamente, na base de inúmeros progressos e desastres, científicos e tecnológicos, do nosso tempo, como a bomba atómica e a ecografia médica.

Como iríamos classificar estes livros?

quinta-feira, junho 2

Educação sexual: vale a pena ler ...

Deitei fora o guarda chuva


Deitei fora o guarda chuva

que bom
molhar-me contigo
Samurai Zen
no lago azul
dos sonhos
m
entre algas que dançam
na maré do meu desejo
dou à costa
Calvin
naufragado
mas feliz
Sofia
da areia fiz cama
da espuma fiz beijos
de ti fiz Amor
Mitsou

Assim acabamos o nosso primeiro renku. Queria agradecer a todos os participantes. Queria agradecer também a todos os leitores que escolheram os poemas ao longo do mês:
O Lutz, a Lena, a S e a Wind.

Pais atentos

Do site do MOVE que promove uma petição contra a APF, na página "Quem Somos":
"Somos um grupo de pais, que ficaram chocados pela forma como a educação sexual nas escolas tem vindo a ser ministrada, sem seu conhecimento nem consentimento, conforme foi denunciado no Jornal "Expresso" no passado dia 14 de Maio."

Então a APF anda nas escolas a fazer "estragos" há tantos anos aos seus filhos (só para esses podem invocar necessidade de conhecimento e consentimento) e estes pais só agora perceberam através de uma notícia tão vaga e mal construída como a do Expresso de 14/5?

quarta-feira, junho 1

Bots

Porque é que quando queremos fazer um comentário em alguns blogs ou messageboards é necessário copiar umas letras, que muitas vezes são difíceis de ler?
Porque razão alguns internautas escrevem o seu email nas suas páginas pessais ou nos foruns/messageboards na forma nome at hotmail dot com.
Como é que o Google sabe onde estão os documentos "relevantes" para a questão que lhe colocamos?

Estes são alguns dos efeitos mais visíveis dos (ro)bots. Bot é a forma abreviada (e mais chique) de robot. Um bot é um software que percorre automaticamente (sem intervenção humana) a web, ou um conjunto de sites, em busca de informação para a colocar numa base de dados, ou para executar uma acção pré-determinada. São assim chamados pois realizam um trabalho mecânico e repetitivo a uma velocidade que seria impossível de igualar por um humano. Mais informações em Internet bot e em The Web Robots FAQ.

Vejamos exemplos de bots.

Spiders (aranhas), web crawlers & web wanderers:

Estes termos são sinónimos e descrevem programas que automaticamente e recursivamente percorrem a web seguindo links. Quando uma página web é visitada o seu conteúdo é analisado e colocado numa base de dados. É desta forma que os motores de busca, o Google por exemplo, sabem onde estão as páginas web, pois têm uma cópia do seu conteúdo e o seu endereço (URL) na sua base de dados. Procurar a web num motor de busca é um termo ligeiramente enganador... na realidade o internauta está apenas a pesquisar a porção da web que o motor de busca indexou na sua base de dados. Estes termos (spiders , web crawlers e web wanderers) são ligeiramente enganadores, pois dão a impressão de que o próprio software se move entre os sites como um vírus, tal não é o caso, pois os robots apenas pedem documentos presentes nestes sites.

Spambots:

Os motores de busca são usados como a porta de entrada para a web. É por isso que alguns indivíduos ou organizações (spammers & SEOs) tentam enganar os motores de busca de forma a que estes dêem uma maior relevância às suas páginas, do que aquela que estas realmente merecem, devido aos significativos ganhos financeiros associados, quer seja pela venda de mais produtos e serviços, quer seja pela venda de mais publicidade sob a forma de banners, popups, popunders, testemunhos, links afiliados, etc... Devido a estes incentivos financeiros não é de admirar que os spammers usem também robots, chamados spambots, para automatizarem a árdua tarefa de escreverem mensagens em milhares de blogs e fóruns. Esta é uma estratégia que beneficia duplamente os spammers, pois não só estes criam mais links para os seus sites e desta forma ganham mais pagerank, como também ganham texto altamente relevante para as páginas linkadas, pois os motores de busca mais evoluidos (Google, Yahoo, MSN, Ando, Teoma, Gigablast, Hexalead e Baidu) juntam os anchors (o texto sublinhado dos links) à página linkada e atribuem-lhe uma relevância superior à do próprio texto da página! A razão por detrás deste comportamento aparentemente estranho é a de que os anchors dos links orgânicos (i.e. os links dos não spammers), tal como o título da página, costumam a ser óptimas descripções do conteúdo da página web...
O spam nos blogs e nos fóruns está ganhando popularidade e não é só um problema dos motores de busca, como também afecta directamente milhões de blogs e de fóruns, para os quais este é mais uma chatice semelhante à do spam que recebem nos e-mails. Como forma de resolver o problema do ponto de vista dos reponsáveis dos blogs/foruns, estes têm optado por várias estratégias, como a criação de lista negras de IPs responsáveis pelo spam, ou a introdução de moderadores nos foruns que diligentemente apagam o spam, ou a necessidade dos internautas se registarem para poderem colocar mensagens nos fóruns, ou a criação de testes simples, que os robots são incapazes de passar, como copiar algumas letras que às vezes são difíceis de se ler, ou responder se se é um humano ou não, questão à qual os robots são incapazes de responder...

Um exemplo típico de spam é a venda online de prozac: "Lookin to save some money on medications" "buy prozac", com os seus 812 posts de spam em fóruns & blogs.

Harversters (ceifeiras-debulhadoras):

Tal como as ceifeiras-debulhadoras percorrem os campos para ceifar e debulhar os cereais, também os "harversters" percorrem a web para colher os e-mails que encontrem nas páginas web que visitem, para os colocar numa base de dados que será posteriormente vendida a quem queira enviar publicidade por e-mail. Para diminuir o risco de que os seus e-mails sejam colhidos por um harverster e posteriormente vendidos aos spammers, os internautas mais avisados costumam a escrever os seus e-mails na forma: nome at hotmail dot com. No entanto as novas gerações de harversters já sabem lidar com este truque... uma solução simples que ainda funciona consiste em escrever o e-mail na forma nNomMe@hotmail.com e dizer para retirar as letras repetidas ou as maiúsculas.

Os robots também são utilizados para traduzir páginas web, para informar o internauta por e-mail quando há novas notícias sobre um determinado assunto, para identificar oportunidades de arbitragem, vulgo procurar pechinchas para a procura de livros em segunda mão, para fazer o download de sites, ou parte destes, para o disco do internauta à la wget & cURL, sendo esta útima classe de robots conhecida pelo nome sugestivo de aspiradores. Estes últimos poderão ser úteis no caso do internauta querer fazer uma cópia de segurança, no caso deste desconfiar que essa informação não permaneça lá muito tempo...

Mais informações sobre o uso de robots em OReilly - Spidering Hacks.chm.

AD