sexta-feira, abril 29

Os limites do diálogo


O livro de Thomas Kuhn A estrutura das revoluções científicas é umas das obras mais importantes da filosofia do século XX. A sua análise é fundamental para compreender as limitações do diálogo e os limites da racionalidade. É a obra mais importante sobre o assunto desde que Platão publicou O Sofista. Se Guterres leu o livro, não o percebeu. As ideias de Khun tem também alguma coisa a dizer sobre o conflito que desabrochou com a eleição do novo papa.
A tese de Khun é a seguinte. Num determinado momento da história da física está estabelecido um paradigma. Quer isto dizer que se estabeleceu um certo conjunto de teorias que formam um todo mais ou menos coerente. O que os físicos fazem é usar essas teorias para resolver problemas. Num dado momento existem sempre problemas por resolver e dados experimentais que parecem contradizer a teoria. Normalmente uma década mais tarde uma quantidade significativa dos problemas por resolver foram efectivamente resolvidos e muitos dos dados experimentais que pareciam contradizer a teoria foram explicados: a experiência tinha sido mal executada, a teoria tinha sido mal interpretada etc.
Nenhuma teoria é invalidada por um dado experimental. A única conclusão a tirar é que não surgiu ainda um físico suficientemente esperto para resolver o problema. Uma teoria só é eventualmente invalidada por uma nova teoria que se proponha substituí-la. A nova teoria é proposta por um pequeno grupo de físicos. A maior parte dos físicos da geração anterior nunca aceita a nova teoria. O que acontece é que eles acabam por morrer e a nova geração é educada dentro do novo paradigma. Podem ver aqui e aqui uma descrição mais detalhada do livro de Khun.
Exemplos de paradigmas da física:
Galileu pôs em causa o paradigma da física aristotélica. O novo paradigma foi estabelecido por Newton e vigorou até ao fim do século XIX.
No princípio do século vinte foram estabelecidos dois novos paradigmas, a mecânica quântica e a teoria da relatividade. Estes paradigmas coexistiram pacificamente durante todo o século porque tratam de realidades diferentes, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. À escala da nossa vida quotidiana o paradigma newtoniano funciona razoavelmente bem.
Einstein tentou durante décadas criar um novo paradigma que unificasse a mecânica quantica e a teoria da relatividade. A Teoria das Supercordas é o paradigma que Einstein procurou? Aceitam-se apostas.

Foto: a sonda Galileu

2 comentários:

Luis Moutinho disse...

Ah! Então é Khun...

Já uso esse conceito, na minha reflexividade científica, há alguns anos.

Mas posso ter lido isto em qualquer lado.

Orlando disse...

Todas as grandes teorias cunham novos termos que com o passar dos tempos passam a integrar a nossa linguagem de todos os dias. Freud criou o termo inconsciente, Jung criou o par introvertido/extrovertido...